O TANTRA DA DEUSA
VOCÊ CONHECE O SIGNIFICADO?
Shiva, Shaktí e
Kundaliní
Para o tantra, toda mulher, por mais comum que seja, encarna a Deusa, é
a Deusa, a Mulher absoluta, a Mãe cósmica.
Muitos homens reagem ceticamente a essas palavras. De fato, como é possível
ver nas mulheres com as quais se convive uma Deusa no sentido pleno da palavra?
E o marido, que briga feio com a patroa, escarnecerá: "Não brinca! Deusa?
Só se for onça!".
Ora, para o tantra, perceber concretamente o aspecto divino de cada
mulher é uma condição prévia para o maithuna, e o ritual tântrico que precede
essa união sexual sagrada se destina a levar a perceber essa realidade. Mas
como é possível ver a deusa oculta em cada mulher?
O tantra nos propõe um primeiro meio: como é impossível voltar a ser um
bebê, pode-se pelo menos considerar a relação do recém-nascido com a mãe. Mal
saído de seu ventre, ele ainda faz parte de sua carne, e serão necessários
ainda muitos meses ou anos antes que esteja em condições de se separar dela ou,
pelo menos, de ter alguma autonomia. Ora, no universo mágico da criança, do
qual a mãe é o centro, ela é a Mulher ideal. Sejamos deliberadamente maus:
imaginemo-la feia, tola, rabugenta. A criança a vê assim? Claro que não! Para
ele, a mãe é beleza, bondade, amor encarnados, ela é a Deusa; perfeita, ela
tudo sabe e não mente. Só muito mais tarde descobrirá a mulher
"real", comum, anedótica que a mãe é, com seus defeitos, beatice e,
até mesmo, com seu mau-caratismo. Para nós, adultos "racionais", só
esta última é "real e verdadeira", o resto é literatura.
Então, a Mãe divina do bebê é uma ilusão da imaginação infantil? Para o
tantra, não é o adulto que está com a razão, mas a criança, porque, além das
aparências, ela percebe a realidade última, a Mãe Divina, a Vida cósmica
encarnadas pela mãe "real", concreta.
A outra via de acesso ao Absoluto oculto na mulher (ou no homem comum) é
bem agradável: basta estar amando! É de lastimar o ser humano que nunca
experimentou a maravilhosa emoção que o encontro do ser ideal (pelo menos no
primeiro momento) desperta. Os amantes encarnam, um para o outro, a beleza, a
perfeição; eles flutuam num universo mágico, onde tudo é alegria. Uma palavra,
um gesto, o mais leve toque os transportam. Vem o primeiro encontro, o primeiro
beijo, os abraços: que maravilha! Os romances, os filmes celebram outra coisa,
afinal?
Mas os amantes vêem a realidade? São comuns esses casais em que, por
exemplo, uma mulher bonita e inteligente fica perdidamente enamorada por um
homem que, aos olhos dos outros, não é belo, nem esperto, nem jovem, nem
mesmo... muito rico! Todos ficam pensando: "Como pode ela gostar dele? O
que vê nele de formidável?". Quem o conhece sabe que ele não é
interessante, por seu caráter, educação, etc. Mas ela não vê isso! Para ela,
ele é o homem ideal. O tântrico diria: "Ele encarna Shiva". Dia virá
em que, casada, desembriagada, ela o verá "como é" e o casal afundará
na banalidade e, no fim, no rompimento ou na resignação. Tendo evaporado o
divino Shiva, dirão: "Enfim, ela vê claramente". De fato, na ótica do
tantra, a mulher enamorada percebia a realidade última, para lá do personagem
concreto, anedótico. O mesmo acontece com o homem apaixonado; para ele, a amada
é Shaktí, a Deusa.
Assim, confundimos o superficial, o anedótico, com o profundo, o
verdadeiro, oculto sob as aparências. Fisicamente também: o corpo real mascara
o corpo verdadeiro: ninguém realizou seu verdadeiro corpo, aquele que a
natureza previu, que estava programado nos genes. Ora, este é o corpo
verdadeiro, e é este que transmitimos às gerações futuras. De fato, se, da
concepção ao dia de hoje, eu me beneficiasse de um meio ambiente ideal sob
todos os pontos de vista, corporal, mental e espiritual, eu teria manifestado
meus genes perfeitamente, e seria quase um super-homem, em comparação ao que me
tornei realmente.
O mito da deusa, da Shaktí, assim como o de Shiva, implica isso tudo, e
também o conjunto das virtualidades cósmicas próprias à matéria viva. E por
isso o tântrico adora a Shaktí cósmica em toda mulher. Realizar é uma das metas
do tantra e faz parte da expansão do campo de consciência a que ele visa.
Chegamos aqui ao conceito de Kundaliní, que é o dinamismo evolutivo que
faz o homem atual emergir dos pré-hominídeos e que, talvez, no futuro, faça
advir um super-homem. Por que não? Mas a evolução não é linear: em seus surtos
ela mistura intensamente uma ou várias espécies. Em período "calmo"
ela é um misterioso dinamismo que guia a evolução de um ser a partir do óvulo
fecundado. O tantra acredita que a Kundaliní, localizada nos órgãos genitais, o
pólo espécie, está ligada ao nosso dinamismo vital e à nossa sexualidade. Ela
costuma estar latente, "adormecida", o que é simbolizado pela
serpente adormecida e enrolada ao redor do linga. O tantra pretende "despertá-la",
quer atualizar hoje certas potencialidades reservadas para a evolução futura da
humanidade. Em poucas palavras, eis até onde nos levou a Deusa encarnada em
cada mulher...
Após essa divagação cósmica, será machismo encerrar este capítulo com a
anedota em que um senhor já não muito jovem diz à sua companheira: "Sei
bem que encarno o Shiva absoluto, mas mesmo assim não consigo compreender como
é que uma mulher jovem e bela como você pôde se enamorar de um velho
biliardário como eu"
Extraído do
livro Tantra, o Culto à
Feminilidade, LYSEBETH, André Van. Pág. 177. São Paulo. Summus. 1994
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