14 de fevereiro de 2013

O TANTRA DA DEUSA - Você conhece o significado?


O TANTRA DA DEUSA
VOCÊ CONHECE O SIGNIFICADO?

Shiva, Shaktí e Kundaliní

Para o tantra, toda mulher, por mais comum que seja, encarna a Deusa, é a Deusa, a Mulher absoluta, a Mãe cósmica.
Muitos homens reagem ceticamente a essas palavras. De fato, como é possível ver nas mulheres com as quais se convive uma Deusa no sentido pleno da palavra? E o marido, que briga feio com a patroa, escarnecerá: "Não brinca! Deusa? Só se for onça!".
Ora, para o tantra, perceber concretamente o aspecto divino de cada mulher é uma condição prévia para o maithuna, e o ritual tântrico que precede essa união sexual sagrada se destina a levar a perceber essa realidade. Mas como é possível ver a deusa oculta em cada mulher?
O tantra nos propõe um primeiro meio: como é impossível voltar a ser um bebê, pode-se pelo menos considerar a relação do recém-nascido com a mãe. Mal saído de seu ventre, ele ainda faz parte de sua carne, e serão necessários ainda muitos meses ou anos antes que esteja em condições de se separar dela ou, pelo menos, de ter alguma autonomia. Ora, no universo mágico da criança, do qual a mãe é o centro, ela é a Mulher ideal. Sejamos deliberadamente maus: imaginemo-la feia, tola, rabugenta. A criança a vê assim? Claro que não! Para ele, a mãe é beleza, bondade, amor encarnados, ela é a Deusa; perfeita, ela tudo sabe e não mente. Só muito mais tarde descobrirá a mulher "real", comum, anedótica que a mãe é, com seus defeitos, beatice e, até mesmo, com seu mau-caratismo. Para nós, adultos "racionais", só esta última é "real e verdadeira", o resto é literatura.
Então, a Mãe divina do bebê é uma ilusão da imaginação infantil? Para o tantra, não é o adulto que está com a razão, mas a criança, porque, além das aparências, ela percebe a realidade última, a Mãe Divina, a Vida cósmica encarnadas pela mãe "real", concreta.
A outra via de acesso ao Absoluto oculto na mulher (ou no homem comum) é bem agradável: basta estar amando! É de lastimar o ser humano que nunca experimentou a maravilhosa emoção que o encontro do ser ideal (pelo menos no primeiro momento) desperta. Os amantes encarnam, um para o outro, a beleza, a perfeição; eles flutuam num universo mágico, onde tudo é alegria. Uma palavra, um gesto, o mais leve toque os transportam. Vem o primeiro encontro, o primeiro beijo, os abraços: que maravilha! Os romances, os filmes celebram outra coisa, afinal?
Mas os amantes vêem a realidade? São comuns esses casais em que, por exemplo, uma mulher bonita e inteligente fica perdidamente enamorada por um homem que, aos olhos dos outros, não é belo, nem esperto, nem jovem, nem mesmo... muito rico! Todos ficam pensando: "Como pode ela gostar dele? O que vê nele de formidável?". Quem o conhece sabe que ele não é interessante, por seu caráter, educação, etc. Mas ela não vê isso! Para ela, ele é o homem ideal. O tântrico diria: "Ele encarna Shiva". Dia virá em que, casada, desembriagada, ela o verá "como é" e o casal afundará na banalidade e, no fim, no rompimento ou na resignação. Tendo evaporado o divino Shiva, dirão: "Enfim, ela vê claramente". De fato, na ótica do tantra, a mulher enamorada percebia a realidade última, para lá do personagem concreto, anedótico. O mesmo acontece com o homem apaixonado; para ele, a amada é Shaktí, a Deusa.
Assim, confundimos o superficial, o anedótico, com o profundo, o verdadeiro, oculto sob as aparências. Fisicamente também: o corpo real mascara o corpo verdadeiro: ninguém realizou seu verdadeiro corpo, aquele que a natureza previu, que estava programado nos genes. Ora, este é o corpo verdadeiro, e é este que transmitimos às gerações futuras. De fato, se, da concepção ao dia de hoje, eu me beneficiasse de um meio ambiente ideal sob todos os pontos de vista, corporal, mental e espiritual, eu teria manifestado meus genes perfeitamente, e seria quase um super-homem, em comparação ao que me tornei realmente.
O mito da deusa, da Shaktí, assim como o de Shiva, implica isso tudo, e também o conjunto das virtualidades cósmicas próprias à matéria viva. E por isso o tântrico adora a Shaktí cósmica em toda mulher. Realizar é uma das metas do tantra e faz parte da expansão do campo de consciência a que ele visa.
Chegamos aqui ao conceito de Kundaliní, que é o dinamismo evolutivo que faz o homem atual emergir dos pré-hominídeos e que, talvez, no futuro, faça advir um super-homem. Por que não? Mas a evolução não é linear: em seus surtos ela mistura intensamente uma ou várias espécies. Em período "calmo" ela é um misterioso dinamismo que guia a evolução de um ser a partir do óvulo fecundado. O tantra acredita que a Kundaliní, localizada nos órgãos genitais, o pólo espécie, está ligada ao nosso dinamismo vital e à nossa sexualidade. Ela costuma estar latente, "adormecida", o que é simbolizado pela serpente adormecida e enrolada ao redor do linga. O tantra pretende "despertá-la", quer atualizar hoje certas potencialidades reservadas para a evolução futura da humanidade. Em poucas palavras, eis até onde nos levou a Deusa encarnada em cada mulher...
Após essa divagação cósmica, será machismo encerrar este capítulo com a anedota em que um senhor já não muito jovem diz à sua companheira: "Sei bem que encarno o Shiva absoluto, mas mesmo assim não consigo compreender como é que uma mulher jovem e bela como você pôde se enamorar de um velho biliardário como eu"
Extraído do livro Tantra, o Culto à Feminilidade, LYSEBETH, André Van. Pág. 177. São Paulo. Summus. 1994

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